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Segunda, 18 de Março de 2019 - 07h56
Violência é tamanha, que mulheres se sentem mais seguras dentro do presídio

Campo Grande News
Em roda de conversa, história são parecidas, com mulheres que entram no mundo do crime coagidas pelo abusivo de seus parceiros. (Foto: Henrique Kawaminami)Em roda de conversa, história são parecidas, com mulheres que entram no mundo do crime coagidas pelo abusivo de seus parceiros. (Foto: Henrique Kawaminami)

Por todos os lados da casa, gritos. No quarto, o puxão de cabelo, o tapa e a porrada. Em mais um dia de violência, Cassiane sentiu na cabeça e nos braços a dor das facadas. Foi nessa ordem que ela sofreu uma das últimas agressões do ex-marido, antes de ser presa por tráfico de drogas. A história é parecida com as de outras mulheres que entram no mundo do crime levadas por seus parceiros. Tamanha dor é capaz de fazer quem apanha sentir até alívio em estar dentro do presídio.

 
 

Durante quatro anos foi essa a cena vivida por Cassiane. Aos 24 anos, ela é uma das personagens que o Lado B ouviu durante palestra sobre violência contra mulher, realizada dentro do Estabelecimento Penal Feminino Irmã Irma Zorzi. A proposta é fortalecer as mulheres, antes que elas recuperem a liberdade.

A primeira agressão foi no início da relação. Os dois passaram a viver juntos quando ela deixou o abrigo onde viveu desde a infância. A situação, ela nunca esqueceu. “Estávamos em casa, ele me bateu, foi um tapa forte. Mas eu achava que a culpa era minha, então perdoei”.

Facada no braço após violência do ex-marido. (Foto: Henrique Kawaminami)Facada no braço após violência do ex-marido. (Foto: Henrique Kawaminami)
As marcas também estão na testa. (Foto: Henrique Kawaminami)As marcas também estão na testa. (Foto: Henrique Kawaminami)
 

Mais uma vez a história se assemelha com a maioria das mulheres. Ele batia de noite e acordada dizendo “prometo que não vou te bater mais”.

“Ele era o homem mais lindo da vida, amoroso, o homem que um dia me tirou do abrigo. Não tinha como não perdoar um amor, o pai dos meus filhos, por isso, eu achava que tudo ia mudar”.

A cada perdão, ele batia sem dó. Na maioria das vezes sóbrio, mas a dor era maior quando estava bêbado. Os motivos? Não tinha motivos, a culpa era de Cassiane porque “não fez o que ele mandou”, “não limpou a casa direito” e “conversou com outro homem”. Os motivos não mudavam, enquanto Cassiane “pisava em ovos” para não apanhar. “Eu tinha tanto medo dele que eu só deixava a porta trancada, isso porque ele varria o terreno até a terra ficar bem lisa. Quando voltava, ele contava as pegadas para saber se alguém havia entrado na casa ou se eu havia saído”.

Todas as vezes ela achou que a porrada seria a última. “Sabe quando você reza para tudo acabar? Eu tinha fé que aquilo seria só uma fase”, tenta justificar Cassiane.

Quando ela conseguiu pedir ajuda pela primeira vez, estava com um corte profundo na parte superior da bochecha, próximo ao olho direito, depois de levar uma pedrada no meio da rua. “Precisei levar oito pontos, ficou roxo durante dias”.

Foi a agressão do ponto final para Cassiane, mas só o começo de mais uma violência para o ex-marido. “Ele me pediu perdão, chorou e eu voltei acreditando que havia mudado. Naquele dia, ele foi para o futebol, voltou bêbado e me deu uma facada na cabeça. Me defendi com braço e fui esfaqueada de novo”.

 
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